domingo, 22 de agosto de 2010

Doutrina ético-filosófica, a logosofia instiga a pessoa a tomar as rédeas da própria vida

Todas as manhãs, o despertador toca no mesmo horário. Você se levanta, mas o cérebro ainda parece adormecido. Será que a reunião não pode ser adiada? E se eu cochilar mais um pouco? O resultado desses e outros pensamentos pouco produtivos é inevitável: compromissos acumulados, falta de ânimo e frustração. Se essa situação lhe é familiar, não se desespere: a logosofia pode ajudá-lo a parar de perder tempo — e se concentrar no que realmente interessa.

O nome dessa ciência ainda pouco difundida vem do grego. “Logos” significa inteligência, razão. “Sofos” quer dizer ciência, conhecimento. O objeto de estudo é a própria vida e o principal objetivo, a evolução consciente. Sistematizada pelo pensador argentino Carlos Bernardo González Pecotche (também conhecido como Raumsol), em 1930, a logosofia instiga seus adeptos a tomarem as rédeas do destino, afastando os pensamentos ociosos.

— É um processo que não se faz da noite para o dia. Tenho que conhecer as minhas dificuldades para vencê-las — resume José Mário Correa, presidente da Fundação Logosófica de Brasília.

Ele explica que a prática é laica, embora tenha um quê de espiritual.

— Todo mundo quer ser melhor do que é, mas, muitas vezes, não sabe como fazê-lo — pondera José Mário.

Para chegar lá, é preciso virar detetive de si mesmo. Durante o processo, pensamentos, qualidades, defeitos, caráter e demais aspectos psicológicos são perscrutados pelo principal interessado: o aluno.

O método da logosofia baseia-se na ideia de que pensamentos positivos atraem resultados positivos e vice-versa. A primeira etapa consiste em familiarizar-se com os temas abordados. O segundo passo é mais difícil: identificar as próprias falhas e aplicar os ensinamentos na rotina. Se a pessoa descobre que tem falta de vontade, por exemplo, precisa combatê-la com determinação.

Caminho para a vida inteira

Ainda que pareça uma prática solitária (já que os resultados dependem dos esforços de cada um), a logosofia é, necessariamente, um estudo em grupo.

— O pesquisador pode até avançar em algumas coisas sozinho, mas o estudo ficará defasado — esclarece José Mário Correa. Também não é um conhecimento com data da validade. — Enquanto se está vivo, há algo a aprender — enfatiza.

O caminho para a autotransformação é longo. Primeiro, o interessado deve participar de reuniões. Lá, alunos mais experientes passam alguns conceitos básicos do estudo para os novatos. O segundo passo é chamado de preparação, no qual o aluno recebe noções mais aprofundadas. As reuniões continuam por mais oito semanas. É nessa fase que a pessoa decide se quer ou não se comprometer com sua busca pessoal. Uma vez integrado, o aluno passa a fazer parte de grupos de estudo e, posteriormente, poderá atuar como monitor dos neófitos.

As crianças também podem entrar em contato com as ideias de Carlos Pecotche desde cedo. Como nas escolas tradicionais, os alunos dos colégios logosóficos fazem dever de casa, sentam-se em carteiras e aprendem noções de história, matemática e geografia. O que muda é a abordagem desses assuntos.

— A pedagogia logosófica entra na formação espiritual e moral do aluno — explica Lúcia Andrade, diretora da Escola Logosófica de Brasília. — Incentivamos o aluno a pensar.

No Brasil, sete unidades de ensino fazem uso da pedagogia logosófica. Por meio de dinâmicas e reflexões, os professores discutem valores e ensinam a colocar os ensinamentos em prática de maneira racional. E nada de festas juninas, ovos de Páscoa ou crianças usando gorros de Papai Noel no fim do ano: manifestações de religiosidade, mesmo as festivas, estão descartadas.

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