Certa vez, na cidade de Goiás, resolvi fazer uma visita a Consuelo Caiado, que morava sozinha, num sobrado na Praça do Palácio Conde dos Arcos. Estava comigo o fotógrafo Hélio de Oliveira. Fui orientado de que ela vivia enclausurada, sozinha, não tomava banho e não recebia ninguém.
Cheguei à porta da casa, que estava aberta e dei o "ô de casa!". Uma voz ríspida de alguém perguntando: quem é? Fui entrando devagar e vi uma senhora idosa, pesadona, assentada numa cadeira de balanço, com os cabelos desalinhados e que aos gritos foi me perguntando quem era eu. Falei meu nome e ela perguntou se eu era Mendonça de Pirenópolis e, ao afirmar que sim, ela completou: - Meia Ponte, meia gente, meia língua, língua inteira.
Vi logo que seria difícil qualquer entendimento com ela, que me parecia esclerosada e bastante idosa. Nesse momento vi na parede a fotografia de seu pai, o famoso Totó Caiado, e, dando a entender que não o conhecia, perguntei-lhe quem era.
- É o papai, o senador Antônio Ramos Caiado, disse-me ela e, procurando ganhar terreno, eu disse que ele era bonitão e que ela parecia muito com ele, e que era muito bonita, também. Imediatamente ela abriu um sorriso, ajeitou os cabelos e eu havia ganho a batalha. Aproximei-me dela, tiramos foto juntos, que foi publicada em meu livro No Santuário de Cora Coralina.
Agora, depois de dez dias de olhos pregados no livro de quase 1.100 páginas (dois tomos), acabei a leitura de Paixão e Poder, a Saga dos Caiado, de minha amiga e historiadora Lena Castelo Branco Ferreira de Freitas. Mais uma vez entrei no mundo de Consuelo Caiado. Foi um belo e inesquecível passeio pela história goiana, a partir do ano de 1770, quando chegou à Vila Boa o português Manoel Cayado de Souza, beneficiado por uma sesmaria. Desse cidadão descendia o senador de Antônio Ramos Caiado, o famoso Totó, que esteve no poder político de Goiás de 1912 a 1930.
Para escrever o livro, dona Lena se valeu de inúmeras fontes bibliográficas e, o mais importante, manuseou todo o arquivo da família Caiado, disperso entre vários membros e principalmente de Consuelo Caiado, que teve papel importante após a Revolução de Trinta, que derrubou os Caiado, que passaram a serem chamado de os caídos.
A presença de Consuelo é destaque porque passou a ser o elo de ligação com o pai, exilado no Rio de Janeiro, e os familiares residentes na cidade de Goiás. Consuelo capitaneou a nau caiadista, em deriva nos latifúndios goianos
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